A vida é a maior inspiração para o cantor lírico Jacques Rocha. Foi em meio às lutas e às dificuldades que ele descobriu, ainda menino, que cantar aliviava o sofrimento e trazia paz à alma. Hoje, aos 34 anos, o dom para o canto, que aflorou, instintivamente na infância, pode transformá-lo, segundo maestros e professores, em um novo Pavarotti.
Filho de professora e pedreiro, Jacques aprendeu muito cedo que a vida pode ser dura. Quando tinha apenas 8 anos, a mãe teve um aneurisma. Esta seria a primeira doença, de muitas que viriam com a hipertensão. Filho dedicado, arrimo de família, ele cuida dela — que teve sete derrames — até hoje e ainda ajudou a criar o irmão mais novo, atualmente com 15 anos.
Era nos momentos de angústia que Jacques cantava para desanuviar os pensamentos. Não tinha discos de música clássica, nem ninguém na família que cantasse.
Negro e de família humilde, nascido e criado em Santo Aleixo, no município de Magé, ele é o estereótipo de quem não gosta de ópera— ou não deveria gostar. No entanto, aos 10 anos, já era apaixonado por música clássica. Passou a infância ouvindo óperas, em um radinho de pilha, sintonizado na Rádio MEC.
— Nunca tive uma vida fácil. Quando me sentia triste e com o coração apertado eu cantava embaixo do chuveiro — brinca ele, que já chegou a dormir na rua, com mendigos, por falta de dinheiro para pagar o táxi.
Ele começou tarde a buscar o ensino do canto lírico, mas foi aprovado pela banca de exames da escola de música Villa-Lobos, aos 21 anos.
Joel Teles de Souza, 60 anos, o primeiro professor, conta que tem com Jacques uma história de amizade e identificação.
— Ele é dono de uma voz excepcional. Pode se tornar o próximo grande nome do canto erudito.
Há menos de dois anos, Jacques procurou a professora de canto Teresa Fagundes para apurar a técnica. Cheia de orgulho, ela afirma que o cantor é uma das maiores descobertas, dos últimos tempos:
— Ele tem uma voz generosa e superagudos fáceis. Jacques supera todas as expectativas. Pode ser o nosso Pavarotti — afirma a professora de canto.
heatro Municipal: aprovado com louvor
Em 2008, durante uma audição pública, Jacques foi aprovado com louvor para o coro do Municipal. O diretor artístico interino e regente titular da orquestra sinfônica do Municipal, o maestro Silvio Viegas, diz que Jacques sempre buscou o seu caminho.
—Ele participou de três óperas como solista. Todos só têm elogios a ele.
Para Fernando Bicudo, diretor artístico da Orquestra Sinfônica Brasileira (OSB), o cantor tem futuro.
— Quando o vi cantando pela primeira vez a ópera “A filha do regimento” , de Donizetti, fiquei impressionado. Ela tem nove dós, é dificílima. Ele alcança notas como Pavarotti. E acrescenta:
— Trabalho não vai faltar. Ele vai abrir a temporada da OSB, com a primeira audição no Brasil da ópera “O rei pastor”, de Mozart.
Será no dia 6 de maio, às 15 horas, no Teatro Tom Jobim, no Jardim Botânico.
Fonte: Extra